O conceito de interpretação na psicanálise
Informação, esclarecimento e interpretação
Olá! Me chamo Thalita e sou psicóloga clínica. Nesse texto, voltado aos psicólogos, explico um pouco mais sobre três instrumentos essenciais e de grande utilidade em nossa prática:
a informação, o esclarecimento e a interpretação.
São ferramentas que em sua essência se diferenciam, mas na prática podem se mesclar e serem utilizadas ou trocadas sem delimitações específicas, cabendo apenas distingui-las a fim de uma melhor compreensão teórica.
A informação é utilizada para a correção de um erro, extrínseco ou que falte ao paciente. Nesse sentido, é importante verificar a sua validade e utilizar o ato de informar a fim de buscar o fato ou melhorar a compreensão da realidade.
Não cabe eticamente ao terapeuta passar uma informação subministrando uma interpretação decorrente desta falta, pois dessa maneira causaria depreciação da ferramenta interpretativa e mais, propícia fantasias no paciente de que sempre opera-se no setting com segundas intenções.
É possível pensar que em psicanálise o passar de uma informação ao terapeuta pode ser considerada uma transgressão à neutralidade, entretanto, ao informar simplesmente com o objetivo de suprir um dado faltante, carecendo deste por motivos fundamentalmente alheios, é pertinente e pode ser útil.
As informações contratuais da terapia não se enquadram nesse contexto ao passo que estas são obrigações e procedimentos inerentes ao processo, mas sim de informações em que o terapeuta não sente-se obrigado a dizer.
O esclarecimento busca iluminar algo que o indivíduo sabe, mas não distintamente, sendo que o conhecimento existe, mas diferentemente da informação a falha neste caso é um tanto mais pessoal, havendo uma falta de percepção por parte do paciente.
No esclarecimento, a informação pertence ao paciente, mas esta não pode apreendê-la ou captá-la. A interpretação sempre se refere também a algo que pertence ao paciente mas do qual ele não tem conhecimento, sendo diferente do esclarecimento e da informação, a interpretação não pode referir-se senão ao paciente, pois é impossível ao terapeuta saber o que faz o outro, sabendo apenas o que se passa no aqui e agora, ou seja, o que aparece na sessão.
A interpretação é uma maneira especial de informar, portanto precisa ser veraz, pertinente e objetiva. Deve acontecer de forma desinteressada, apenas com o intuito de proporcionar conhecimento. Ao interpretar, o terapeuta não deve preocupar-se com a forma que o paciente recebe a informação porque as palavras ditas sempre serão as mesmas e a forma com que estas são recebidas também são passíveis de novas compreensões na relação terapêutica.
O conceito de informação e de interpretação coincidem o método psicanalítico, a teoria e a ética, sendo permitida a interpretação mas nunca o controle ou manipulação da conduta alheia.
Lowenstein (1951) diz em resumo que a interpretação é uma informação (conhecimento) que se dá e se refere ao paciente que provoca mudanças que conduzem ao insight. Logo, a finalidade das interpretações é a de produzir insights, mas não necessariamente o faz se o analisando não o quiser.
O insight é um processo muito específico, é a culminação de uma série de momentos de elaboração por meio de um longo trabalho interpretativo.
A interpretação é também uma forma de conexão de significados, o analista toma diversos elementos das associações livres do paciente e produz uma síntese que dá um significado diferente à experiência relatada. Uma conexão real e simbólica. A interpretação por si nunca desqualifica o relato, sendo retificável aproxima o analisando de sua vivência podendo este mudar seu ponto de vista, contrariamente à vivência delirante primária já estabelecida.
A interpretação é sempre uma hipótese e por isso exposta à refutação. Quando formulada, torna-se autônoma e independe do analista que a diz ou do analisando que a recebe. Desse modo estabelece-se um sistema aberto de retroalimentação e regulação entre o homem e o mundo.
A interpretação psicanalítica pertence ao mundo do inteligível, das ideias em sentido objetivo, o âmbito das teorias em si mesmas e de suas relações lógicas. Nesse sentido se faz necessário o deixar fluir destas menções, sem deter-se a forma delas, pois se esta toma o caráter de irrefutável, deixa de ser uma interpretação.
Por isso é uma hipótese que é feita pelo analista para comunicá-la, para ser dada. E sendo hipótese a única forma de testá-la é comunicando-a, sendo operativa portanto, pois possui em si natureza de teste, que ao ser testada promove mudanças.
Nesse contexto é importante que a interpretação seja comunicada pelo analista de forma desinteressada, com apenas a intenção de que o analisando a receba e assim, mudará ou não conforme sua própria vontade.
O afeto nesse sentido também se faz essencial, como forma de contribuir em conhecimento para com o analisando e nada além. A modificação da conduta não está incluída na intenção de informar, sendo essa talvez a essência do trabalho analítico.
O que define a psicanálise é que ela prescinde à sugestão, sendo a única psicoterapia que renuncia ao uso de placebos, como outras psicoterapias que utilizam a comunicação como tal.
Então a intenção não é modificar o comportamento mas a informação do paciente, não pretendendo resolver conflitos mas promover o crescimento mental.
Se pudermos relacionar tais instrumentos ao esquema clássico da primeira tópica, a informação refere-se ao âmbito consciente, o esclarecimento ao pré-consciente e a interpretação ao inconsciente.
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REFERÊNCIAS
- Etchegoyen, R. H. O conceito de interpretação. In: Fundamentos da Técnica Psicanalítica. Porto Alegre, Artmed, 2004.